Quando li para minha madrinha meu primeiro texto “Anfitriã conveniente” ela me perguntou:
– Quem escreveu esse texto?
Respondi com um sorriso que era mistura de orgulho e vergonha:
– Eu.
– Menina você é escritora. – Ela afirmou.
– Oxe minha dinda, você é maluca. – Respondi desejando que a maluca fosse eu.
Não há como escrever sem estar na arena da vulnerabilidade, o lugar que nos faz sentir nossa humanidade, onde removemos partes de nossas vestes ou até mesmo todas elas diante de uma incógnita plateia. Nós escritores aprendemos a amar a dor, ela nos rende bons textos, a querer nos apaixonar o ano inteiro, recomeçar sempre que o coração desacelera, abrir os olhos com o olhar de quem se ama, viver para sentir e continuar no ofício de colorir com preto, abraçar ou apunhalar sem tocar.
A anfitriã conveniente.
Todos os dias faço uma visita, descobri onde ela vive. O seu endereço é fácil, ela mora perto. Desde então a visito religiosamente todas as manhãs, às vezes passo para dar oi à tarde, em alguns momentos boa noite. Uma coisa é certa. A minha chegada à porta todos os dias. Às vezes me pergunto se minha visita não é inconveniente. Acho que não. Ela não faz questão de se esconder, está sempre no mesmo lugar, não tem cerimônia com horário. Talvez seja flexível, permissiva e receptiva, pois não recebe visitas frequentemente. Triste. Ela é uma boa companhia. Infelizmente não posso te ensinar o caminho, difere para cada indivíduo. Uma dica: ela está perto. Várias chances: você pode buscar todos os dias. Obrigada pela receptividade FELICIDADE.