recomeço

Em uma sexta-feira estava no centro entre quatro fitas, que formavam um retângulo. A areia sob meus pés, minha mão segurando o que um dia foi minha fuga, meus olhos fitando uma saudade. Meu corpo parecia desajeitado em seu antigo habitat natural, como se meus membros estivessem conhecendo os movimentos pela primeira vez. Mal podia acreditar na minha capacidade de não reconhecer o que um dia foi meu amigo leal. Conforme prosseguia, meu corpo começou a se ajustar, os membros respondiam melhor aos estímulos, gradualmente recuperava minhas memórias. Ao final da aula, compreendi que seria necessário paciência para reconstruir o vínculo com o esporte que tanto amo.

Ao meu ver, recomeços são mais desafiadores do que começos. Aprender com o passado, libertar-se de rótulos, mergulhar novamente, apresentar-se para aqueles que já te conheceram, estar aberto para reconhecer os autores de suas cicatrizes. Apesar das circunstâncias desfavoráveis, sou fascinada por recomeços. Neles enxergo a vulnerabilidade das pessoas dispostas a apanhar a agulha atravessar uma nova linha e recomeçar o bordado inacabado ou desfeito. Os recomeços me lembram a capacidade divina concedida ao homem de se recriar. 

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